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sexta-feira, 3 de maio de 2013

Meu amigo Tim.



Assisti o musical “Tim Maia” no Teatro Net, em Copacabana, e recomendo aos amigos e amigas. O elenco é excelente e o neto do Silvio Santos, Tiago Abravanel, é muito bom ator. A peça é boa, mas não retrata a verdadeira história do Tim Maia. A razão principal de eu ter ido ver a peça foi buscar lembranças dos tempos de juventude, em que vivi com o Tião, lá no bairro do Rio Comprido. Eu morava na Rua Sampaio Viana e ele numa rua adjacente, a Rua Salvador Mendonça, antes ele morou na Rua Barão de Itapagipe, ao lado do Hospital da Aeronáutica. Fomos amigos nos idos anos de 1960 e 1970. Os locais de encontro dos jovens da região, na época, era o Bar Divino e o magnífico Cinema Madrid, localizados na esquina das Ruas Haddock Lobo e Matoso. A peça foi baseada num livro biográfico escrito pelo Nelson Mota, que no meu entender não compreendeu a rebeldia do Tim. Para os amigos de “Long River”, como nós da zona norte chamávamos o bairro, supondo que assim valorizávamos a região, essa rebeldia tinha razões mais profundas, havia um questionamento sobre os valores conservadores da sociedade, inclusive sobre a injustiça social que habitava o Brasil. Mas, Nelson Mota, eterno jurado de calouros, do Programa Flávio Cavalcante, atual jornalista conservador e reacionário das Organizações Globo, uma versão pobre de Paulo Francis, de estilo parecido ao do também reacionário Arnaldo Jabor, não tem competência nem vivência para compreender um rebelde fantástico como o Tim Maia. Portanto, apenas enxergou em Tim um bom cantor, de vida folclórica, fazendo mil trapalhadas e um assíduo usuário de drogas. Há muita diferença entre Tim e os demais artistas originários do Rio Comprido, Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Jorge Ben, os outros três de condições bem mais humildes, não têm a criatividade, a genialidade, a inteligência nem a cultura do rebelde Tim Maia. Na casa dele nasceu um Movimento Musical de Vanguarda. Lá é criado o grupo Sputnik, em homenagem ao satélite artificial soviético, e ele insere ao conjunto os artistas da localidade. Viaja para os EUA numa aventura corajosa, gesto de total rebeldia, e envolve-se com drogas muito jovem. Volta ao Brasil como deportado e quando chega fica surpreendido com o sucesso de Roberto, Erasmo e Jorge, os quais ele achava artistas menores, sem grande talento. É nessa época que nossa amizade cresce. Já bastante familiarizado com as drogas Tião invade uma casa na Praça Afonso Pena e pega uma cadeira de varanda, apenas por desafio, mas só que ali morava um militar que não perdoou o gesto doidão e Tião acabou na cadeia. Fui visitá-lo no Presídio da Frei Caneca, se não me  engano em 1971, e ainda lembro a seguinte história: contou-me que passara aquela noite sem dormi, porque escrevera dezenas de cartas para os colegas de cela, pois era o único alfabetizado entre os presos. Quando saiu da cadeia buscou voltar à música. Em nossa turma de esquina freqüentava um amigo mais letrado, o Gilberto Madeira Martin, mais conhecido por Gilberto careca, que escreveu uma carta ao Roberto Carlos pedindo que lançasse artisticamente o Tião. Dias depois Roberto envia dinheiro para o amigo dos tempos de Rio Comprido. O Tião, ainda não era Tim, gastou todo dinheiro na compra de uma sacola cheia de maconha. Depois de queimar toda erva com os amigos de rua, resolveu pedir ao Gilberto para escrever uma segunda carta para o Rei da Jovem Guarda. Mas, dessa vez, o Rei o convidou para um show  e ele aproveitou a chance, virando o consagrado Tim Maia. Daí para frente tivemos um único encontro, num bar da Rua do Matoso, eu na Petrobrás e ele artista famoso, militando no Movimento Religioso Racional Superior, discutimos fervorosamente, eu iniciava caminho distante do ideário religioso e ele pregando doideiras inexplicáveis. Mais adiante, um amigo comum, comentou comigo que o Tim ingressara nessa seita como uma disfarce tentando evitar chantagens de policias, os quais viviam extorquindo dinheiro, que ameaçavam denunciar a mídia sua prisão e o seu envolvimento com drogas. Conflitante e curioso foi ver a burguesia conservadora rindo e aplaudindo de pé a peça, cuja ideia central é o enaltecimento às drogas, principalmente na inspiração que gerou a música “Chocolate”. A mesma burguesia que no passado excluiu o Tião por ser negro, gordo, feio e arruaceiro das festas em “casas de família”, o que o fez sofrer muito, e que hoje fora do teatro, na vida real, acha que drogas são caso de polícia e não de saúde pública. O que faz milhões de jovens, pelo mundo afora, buscarem a felicidade nas drogas? A sociedade produz, cada vez mais, infelicidade nos cidadãos, obrigando-os a uma competição sem fim e a um consumismo doentio. Então, uma das soluções é descriminalizar o uso de drogas. Aliás, atitude que muitos países vêm assumindo, inclusive o Império norte-americano.
Por José Antonio Simões

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